Os fantasmas de Pac-Man eram monstros quando foram criados



Você sabia que os fantasmas do jogo Pac-Man nem sempre foram fantasmas? Na próxima vez (ou na primeira vez) que encontrar um fliperama original do jogo, verifique com atenção as instruções que ficam adesivadas no monitor.

Utilizando flyers de fliperamas da época como referência, é possível notar que cada máquina do jogo Pac-Man antes de 1983 refere-se a eles como monstros: Pac-Man (tanto monstros, como monstros-fantasmas), Ms. Pac-Man (que não faz referência a eles como um todo), Baby Pac-Man, Super Pac-Man, e até mesmo o pinball Mr. and Mrs. Pac-Man.

Antes que alguém pense que a Midway foi a primeira a chamá-los de monstros, as instruções impressas no monitor da máquina japonesa Puck Man (precursor do jogo, que teve o nome alterado ao ser trazido para o ocidente) também utiliza a mesma nomenclatura:

Todas as publicações especializadas entre 1981 e 1982 referiam-se a eles como monstros também.

Então, quando e por que a Namco mudou a “espécie” dos coadjuvantes?

Tudo começou com o videogame Atari 2600. Graças à limitação técnica do aparelho, que faz os personagens piscarem, o departamento de marketing da Atari tratou de imprimir o manual do jogo com os seres agora chamados de fantasmas. Mesmo antes do jogo ser lançado, os catálogos informativos provindos da Atari já continham tal informação:

O jogo de Atari foi feito em 1981. No dia 3 de Abril de 1982 foi o lançamento oficial, mas o jogo já estava disponível duas semanas antes. Tanto o aparelho Atari 2600, quanto o Atari 5200, trazem nos manuais uma informação bem clara a respeito de fantasmas.

A única exceção acontece nas versões para os computadores Atari 400 e Atari 800, onde os manuais se referem a goblins! (mesmo assim a Atari jamais fez menção específica aos monstros).

Uma referência similar (a goblins) foi feita numa publicação oficial em Julho de 1982:

Assim como aconteceu com Space Invaders, a versão de Atari mostrava gráficos bem diferentes daqueles encontrados nos fliperamas, lembrando “vagamente” o título original. Esta licença criativa da empresa gerou algumas modificações visuais e de nomenclaturas.

Como resultado da popularidade de Pac-Man, aproximadamente 8 milhões de cartuchos foram vendidos para o Atari entre 1982 e 1983, tornando-o um grande sucesso de vendas da plataforma (número muito maior que as máquinas disponíveis). Consequentemente, um grande número de manuais também estava nas ruas, mas a maioria dos proprietários não teve a preocupação de sequer folheá-lo, uma vez que quase todos já sabiam como funcionava sua mecânica.

Se as pessoas não leram os manuais, qual seria o outro fator com representação coletiva para transformar os monstros em fantasmas?

Um forte indício é a série de desenhos animados produzidos pelo estúdio Hanna Barbera, onde eram chamados de Monstros Fantasma.

Mas o desenho era algo que poderia mudar no meio de sua produção, para capítulos posteriores ou até mesmo depois de tudo pronto, já que as vozes foram sincronizadas por último. A série foi televisionada de Setembro de 1982 a Novembro de 1983.

Nesta época a Namco também começou a chamá-los de fantasmas, iniciando com Jr. Pac-Man em 1983. Depois disso, os jogos Pac-Mania, Pac-Man 25th Anniversary e Pac-Man Battle Royal seguiram a mesma regra.

Os “fantasmas” estavam presentes até mesmo no jogo de tabuleiro da Milton Bradley, por volta de 1982. Como ninguém sabe ao certo quando este jogo de tabuleiro foi lançado, tem-se o jogo de Atari como primeiro relato oficial do termo.

Mesmo com essa influência da mídia, dado o contexto do jogo original, o termo “monstros” é mais apropriado.

Eles foram trancados num labirinto (assim como o personagem principal) e quando são “comidos”, precisam voltar a um local seguro para uma completa regeneração (algo similar ao que acontece com alguns répteis, que podem regenerar partes danificadas ou faltantes de seus corpos). Mas… fantasmas não atravessam paredes?

Além disso, cada ser tem uma cor distinta. Mas… fantasma tem cor? Se porventura tiver, não deveria ser a mesma?

A evidência mais convincente para que eles sejam monstros é revelada durante animações que aparecem entre as fases do próprio jogo Pac-Man, onde parte da pele (ou vestimenta) é rasgada, mostrando primeiro uma perna (depois da fase 5), e na próxima animação aparece o “monstro” por completo (depois das fases 9, 13 e 17).

Então aparentemente eles não voltam a um local seguro para regenerar partes do corpo, mas sim para colocar novas roupas sobre a estrutura espectral.

Como acontece em muitos episódios de Scooby-Doo, os fantasmas perambulam por aí como se fossem reais, até que o protagonista retira seu disfarce e expõe a verdadeira identidade do impostor. É exatamente isto que mostram estes interlúdios: são monstros disfarçados de fantasmas.

No entanto, uma vez que o desenho animado mostrou os seres flutuando, não tinha mais como mudar algo tão radicalmente.

Os fantasmas de Pac-Man parecem um elemento de livre interpretação, que sofreram uma mutação com o passar do tempo por conta da cultura popular.

Com a palavra, Toru Iwatani, o criador!

Mas o que teria feito a Namco seguir este rumo? Eles certamente não cuidaram para que a versão de Atari tivesse a mesma aparência dos fliperamas. Muitas empresas desta época e deste ramo concentravam suas forças em ganhar dinheiro com as licenças, deixando a acuracidade no desenvolvimento dos títulos em segundo plano.

Talvez você já tenha pensado: e que tal perguntar ao próprio criador do jogo, Toru Iwatani?

É perfeitamente aceitável que há poucos anos ele venha utilizando apenas o termo fantasmas, mas o renomado profissional do game design deu uma entrevista em 1986 onde refere-se aos personagens em ambos os termos, chamando-os de “monstros em forma de fantasma” (o que podemos considerar uma descrição ótima depois de tudo isso).

Para efeitos de comparação, segue abaixo um vídeo da versão arcade:

E a versão para Atari:

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